Descrição da Metodologia para os Benefícios na Saúde


Para o cálculo dos benefícios na saúde recorremos à ferramenta HEAT, que foi contruída para produzir uma estimativa do benefício médio anual (por ciclista; por viagem; e benefício anual total) devido à redução da mortalidade como resultado da utilização da bicicleta, respondendo a seguinte pergunta:

  Se x pessoas andam de bicicleta regularmente uma quantidade de y, qual é o valor económico dos benefícios na saúde que ocorrem como resultado da redução da mortalidade devido à atividade física?

Assim, para estimar o valor económico dos benefícios na saúde para os municípios portugueses* aplicou-se a seguinte metodologia:

1. Tipo de avaliação: comparação de situações (cenário A vs. cenário B):
Esta opção é usada para avaliar o impacto de uma intervenção real ou cenários hipotéticos. Neste caso, foi necessário inserir na ferramenta HEAT os dados de entrada para os dois casos, o chamado "caso de referência" e o "caso de comparação".
Aqui assumiu-se para o caso de referência os dados dos Censos 2011 e para o caso de comparação o Cenário ITDP1 que estabelece o aumento de 0,2 pontos percentuais por ano (o que representa um aumento 2,02% da quota modal da bicicleta em 10 anos), tendo sido recalculada a distribuição modal por meio de transporte, assumindo que o aumento da utilização da bicicleta representa2:
 - 20% de andar a pé
 - 30% de utilização de transporte individual motorizado (automóvel e motociclo)
 - 50% de utilização de transporte público (autocarro e metropolitano)

2. Escala temporal
Ano do caso de referência:2011
Ano do caso de comparação: 2021
Durante quanto tempo devem ser calculados os dados: 10 anos

3. Impactos a medir: Atividade física e Poluição do ar
Para obter uma estimativa dos benefícios na saúde da atividade física a ferramenta usa estimativas do risco relativo de morte por qualquer causa entre ciclistas regulares em comparação com pessoas que não andam de bicicleta regularmente.
O método utilizado para a avaliação quantitativa dos riscos de poluição do ar e modos de transporte foi estabelecido para servir como base para avaliar os efeitos da poluição do ar em ciclistas. Este método usa as PM2.5 como medida de poluição do ar. Os riscos relativos para a mortalidade e atividade física usados pelo HEAT foram extraídos de estudos em ambientes em que os participantes foram expostos a (diferentes níveis) de poluição do ar. Como tal, os riscos relativos para a atividade física incluem um grau médio de influência da poluição atmosférica ao andar de bicicleta. No entanto, quando na avaliação conjunta da atividade e poluição do ar, o HEAT, ajusta o risco relativo de benefícios de atividade física de andar de bicicleta para excluir os efeitos da poluição do ar, usando estimativas de risco relativo ajustadas ao que seriam se os estudos de atividade física tivessem sido conduzidos em ambientes não poluídos. Mais informação em: https://www.heatwalkingcycling.org/#userguidet

4. Dados da utilização da bicicleta para o caso de referência VS caso comparação (alteração da quota modal da bicicleta)
- População: como o HEAT só inclui população adulta (20 – 64 anos) foram usados os dados da população empregada dos Censos 2011 -População residente (empregada que vive no alojamento a maior parte do ano, a exercer profissão, por principal meio de transporte e segundo a duração do trajeto residência/local de trabalho.
- Quota modal bicicleta
- Volume total de viagens por dia: soma das viagens de todos os modos de transporte multiplicada por 2 assumindo duas deslocações por dia (ida/volta casa/trabalho).
- Distância percorrida em bicicleta.

5. Proporção de novas viagens: não há novas viagens, mas sim transferência de viagens de outros modos de transporte.

6.Proporção de viagens meio de transportes VS recreio: todas as viagens de bicicleta como meio de transporte nas deslocações casa/trabalho.

7.Número de anos que demorará a atingir o volume de utilização da bicicleta (cenário de comparação): 10 anos

7. Outros ajustes: proporção de viagens “em zonas com muito tráfego” na ausência de informação detalhada por município, assumiu-se 50% de viagens que ocorrem em locais com trânsito.

8. Parâmetros estabelecidos pela ferramenta HEAT:
- taxa de mortalidade (valor para Portugal para população 20-64 anos) – 268,0725 (mortes/habitantes);
- valor de uma vida estatística em Portugal (2015) – 1828524,3697 (euros/morte) com taxa de desconto de 5 %.

9. Parâmetros editados:
Velocidade média da bicicleta: 15 Km/h
Concentrações de PM 2.5: assumiu-se uma média de 7,9 para todos os municípios, calculada com base nos dados disponíveis na plataforma da APA (https://qualar.apambiente.pt/estatisticas) do ano de 2015 (entre 2011 e 2021).

10. Resultados Gerais (atividade física + poluição do ar):
Mortes prematuras evitadas por ano mortes
Valor por ano (€)
Valor 10 anos com taxa de atualização 5% (€)

*Nota: tendo em conta população e sua distribuição modal, não foi possível calcular os benefícios económicos na saúde para os seguintes municípios:
Freixo de Espada à Cinta
Mesão Frio
Penedono
Barrancos
Corvo
Laje das Flores
Lagoa
Nordeste
Porto Moniz
Santana
São Vicente
Referências
1McDonald, Z., Fulton, L., & Mason, J. (2015). A Global High Shift Scenario: The Potential for Dramatically Increasing Bicycle and E-bike Use in Cities Around the World, with Estimated Energy, CO2, and Cost Impacts. In International Journal for Sustainable Transportation (Issue November). https://www.itdp.org/wp-content/uploads/2015/11/A-Global-High-Shift-Cycling-Scenario_Nov-2015.pdf
2Marqués, R., Hernández-Herrador, V., Calvo-Salazar, M., & García-Cebrián, J. A. (2015). How infrastructure can promote cycling in cities: Lessons from Seville. Research in Transportation Economics, 53, 31–44. https://doi.org/10.1016/j.retrec.2015.10.017