Educação para a mobilidade de bicicleta

1. Boas Práticas

– Começar pelos grupos-alvo identificados como prioritários.

– As ações devem focar na promoção de comportamentos seguros e não criar barreiras adicionais que desincentivem o uso da bicicleta.

– Devem ser desenvolvidas em ambientes colaborativos e formatos dinâmicos que estimulem o envolvimento ativo de todos e incidam sobre a componente divertida e social da bicicleta.

– Para ser efetivo, é necessário um compromisso para oferecer este tipo de programa de forma regular e por um longo prazo.

– Os formadores/educadores para a mobilidade ciclável devem receber formação adequada, nomeadamente sensibilização para diferentes tipos de limitação (não apenas física) e descriminação.

– A educação para a mobilidade ciclável deve ser uma forma de promover e educar para a cidadania, promovendo comportamentos positivos e responsáveis.

– Monitorizar a adaptação dos cidadãos às alterações e ir reformulando medidas de modo a responderem às necessidades dos utilizadores, sem comprometer os ideais sustentáveis (Ver Gestão, manutenção e monitorização).

– Explicitar os princípios por detrás das medidas tomadas para que fique claro a sua necessidade e funcionamento (Ver Informação).

 

2. Ações

	Programas educativos/ formativos Educação para diferentes conteúdos que tornam a utilização da bicicleta mais segura, nomeadamente: • manutenção e reparo de bicicleta, garantindo as condições de segurança adequadas; • orientações sobre planeamento de rota; • regras de trânsito, cidadania rodoviária e familiaridade com diferentes situações de trânsito; • segurança do ambiente envolvente ao ciclista; • outros conteúdos em função do grupo-alvo.
	Orientações e regras para a mobilidade ciclável O estabelecimento de regulamentos em relação ao comportamento do ciclista no trânsito é importante como orientação de segurança. Contudo, a execução dos regulamentos deve ser feita com cautela, a fim de não levantar barreiras adicionais à bicicleta. Por exemplo, embora os ciclistas devam andar na estrada e não nos passeios, a aplicação rigorosa de uma regra de não andar de bicicleta nos passeios pode inibir a utilização de bicicleta por parte de alguns tipos de utilizadores (como crianças e ciclistas inexperientes); do mesmo modo, o uso obrigatório de capacete cria uma barreira adicional para o potencial ciclista e não contribui diretamente para tornar o ambiente mais segura para a bicicleta. Saber mais: Segurança Rodoviária e a importância da mobilidade ativa; Bike Riders and sharing the road (“Ciclistas e partilha de vias”)/ Austrália
	Laboratórios Colaborativos sobre bicicleta Os laboratórios colaborativos são uma forma dinâmica de partilhar informação, construir e experimentar coletivamente novas soluções para a bicicleta, adaptadas a cada contexto específico. São uma forma de envolver diferentes públicos na educação e co-construção da mobilidade ciclável. Saber mais: Bycs Co-labs
	Promoção de grupos de ciclistas Passeios, encontros e outras vivências em grupo relacionadas com a bicicleta são particularmente importantes devido à sua componente social e aos impactos positivos na segurança. Saber mais: Belles on Bikes (UK) - programa escocês para promover a utilização de bicicleta por grupos de mulheres num ambiente amigável e descontraído. Hoy me toca a mi (País Basco) – programa para promover a utilização de bicicleta por mulheres, através de cursos de aprendizagem e passeios em bicicleta.
	Ações para prevenção de roubos e assédio Esquema de prevenção de roubos promovido pela polícia municipal, que inclua registo voluntário de bicicletas, orientação de medidas de segurança contra roubo, campanhas contra assédio (sobretudo contra ciclistas mulheres) e mapeamento de ocorrências, o que pode aumentar a perceção de segurança e a atratividade da bicicleta para todos e permitir a identificação de bicicletas recuperadas. Saber mais: Bikemaps (EUA) – mapeamento de incidentes de ciclismo, riscos e locais de roubo, para que possam ser analisados para identificar pontos críticos de segurança, risco e crime.
	Aulas de bicicleta (Ver Aulas de Bicicleta)

 

 

1. Impactos

	Eficiência do sistema de mobilidade A Educação para Mobilidade Ciclável contribui para a segurança geral do sistema de transporte, reduzindo a sinistralidade e aumentando a repartição modal da bicicleta, assim promovendo menos trânsito e maior eficiência do sistema de mobilidade.
	Ruas com vida A melhoria dos níveis de segurança da bicicleta significa que as ruas são mais seguras, acessíveis e confortáveis para todos os utilizadores (incluindo aqueles que viajam de carro, a pé ou de transporte público). Ambientes mais seguros trazem mais pessoas para as ruas das cidades, promovendo ruas com mais vida.
	Proteção ambiental O ambiente local é beneficiado pela promoção da mobilidade ciclável.
	Inclusão, equidade e acessibilidade As medidas de educação ciclável tornam o ciclismo mais seguro e acessível para todos, alcançando mais destinos, e tornando-se também mais atrativo para quem não consegue ou não quer comprar carro, para mulheres, para crianças e jovens, para idosos, ou para quem tem mobilidade reduzida, assim promovendo maior equidade social.
	Segurança e conforto Estas medidas estão no cerne da segurança da bicicleta, promovendo a mudança de comportamento dos vários utilizadores (motoristas, ciclistas, peões) e contribuindo diretamente para a redução de sinistros e ferimentos. No entanto, isso não é alcançado apenas por programas educativos; é fundamental que a infraestrutura e o poder político apoiem a bicicleta e proporcionem um ambiente seguro para a bicicleta.
	Valor económico Evidências indicam que a melhoria da segurança da bicicleta e o incremento da sua utilização podem contribuir para dinamizar e revitalizar a economia dos centros das cidades.
	Consciencialização e aceitação A educação ciclável, direcionada para diferentes grupos-alvo, é essencial para sensibilizar e reduzir a resistência à bicicleta, já que promove ambientes amigáveis para as bicicletas e as pessoas ficam mais informadas e desenvolvem as competências necessárias a andar de bicicleta de forma segura.

Legenda:

Muito Positivo

Positivo

Neutro

Negativo

Muito Negativo

2. Barreiras

	Legal Não existem barreiras legais à implementação de programas de educação para mobilidade ciclável. Em última análise, esta aposta irá conduzir a uma mudança do paradigma de mobilidade dominante, exigindo uma realocação estrutural de infraestruturas e alterações das regras de trânsito e do enquadramento legal em geral.
	Financeira A implementação da maioria das medidas é relativamente barata; contudo, a maioria delas deve ser realizada de forma contínua, exigindo financiamento constante.
	Governação A responsabilidade geralmente recai sobre uma autoridade e/ou escolas no caso de programas que visem as escolas, embora possa ser necessária colaboração com a polícia e eventualmente com associações de ciclistas e outros grupos de interesse. Algumas estratégias ao nível da educação podem exigir que polícia, planeadores e cidadãos considerem novas abordagens e implementem novos tipos de programas.
	Aceitação política Melhorias ao nível da segurança e redução do perigo geralmente recebem amplo apoio politico. No entanto, o facto de apenas uma pequena parte da população se deslocar de bicicleta (0.5% em Portugal) retira-lhe peso eleitoral e reivindicativo.
	Aceitação pública É expectável que vários grupos apoiem estas medidas, especialmente movimentos pró-bicicleta; contudo, alguns lobbies poderão se opor, especialmente automobilistas e o cluster do automóvel.
	Viabilidade técnica Programas de educação para mobilidade ciclável não oferecem barreiras técnicas.

Legenda:

Sem barreiras

Barreira mínima

Barreira moderada

Barreira significativa

 

3. Custos

Zona	Medida	Unidade	Custo	Ano de implementação
U.K.	Programa de distribuição de bicicletas (3000 de graça e 1000 emprestadas), o equipamento adicional, programas de treino de utilização da bicicleta, manutenção e viagens guiadas	2 anos financeiros	0,24 milhões £	Informação recolhida em estudo de 2017
Sevilha, Andaluzia (Espanha)	Centro Educación Vial (Tem atividades, site e livros e cadernos para crianças e os seus educadores para informar como navegar no espaço público)	4 anos	304 000,00 €	2007

Estudo de Caso 1: Programa “Rotas Seguras” (National Center for Safe Routes to School, USA)

O Centro Nacional de Rotas Seguras para a Escola (National Center for Safe Routes to School), criado em 2006, promove programas para andar de bicicleta e a pé de forma segura, dando apoio às comunidades e fornecendo informação de qualidade e atualizada. Usa evidências científicas para destacar o que funciona e porquê, desenvolvendo ferramentas educativas e formações para dar às comunidades o apoio técnico que elas precisam neste processo. As suas ações incluem: “Dia de bicicleta para a escola” para encorajar as famílias a celebrar os benefícios da bicicleta, aumentar o compromisso dos líderes comunitários e promover a sua importância para a segurança do trânsito e a qualidade de vida da comunidade; Iniciativa “Visão Zero para a Juventude” que visa eliminar mortes e ferimentos graves no trânsito, focando particularmente em promover o andar de bicicleta e a pé de forma segura e a redução de limites de velocidade em zones onde crianças e jovens estão mais presentes; “Rotas seguras para a escola” que visa tornar seguro o andar de bicicleta e a pé para escola, desenvolvendo recursos, assistência técnica e campanhas de marketing.

Saber mais: www.saferoutesinfo.org; www.pedbikeinfo.org; http://visionzeroforyouth.org

Impacto:

	Eficiência do sistema de mobilidade A promoção de rotas seguras para a escola encoraja a bicicleta começando pelos jovens que podem também ser o gatilho que vai criar maior apoio de toda a comunidade. Os resultados do programa mostram uma tendência ascendente promissora na percentagem de estudantes que vão a pé ou de bicicleta para escola, o que promove uma redução dos congestionamentos rodoviários.
	Ruas com vida Ao começar pelos mais jovens e pelas deslocações para a escola, as comunidades tornam-se locais mais seguros para todos andarem de bicicleta e a pé, trazendo mais pessoas para as ruas.
	Proteção ambiental O ambiente local será necessariamente beneficiado.
	Inclusão, equidade e acessibilidade A criação de lugares seguros para andar de bicicleta ou a pé promove a qualidade de vida de toda a comunidade, promovendo maior equidade social. Uma avaliação do programa conduzida em 2005 mostrou que as comunidades mais pobres estavam bem representadas no seu mecanismo de financiamento.
	Segurança e conforto Ao reduzir os perigos para todos na via pública, as comunidades dão um grande passo em direção ao objetivo estabelecido a nível nacional de acabar com as mortes no trânsito.
	Valor económico É previsível que o programa incentive várias iniciativas económicas em torno da bicicleta.
	Consciencialização e aceitação O programa junta membros da comunidade e seus representantes eleitos para assumir um compromisso na melhoria da segurança de todos, focando privilegiadamente nas crianças e jovens que podem ser o gatilho para uma sensibilização mais geral e para quebrar a resistência à bicicleta.

 

Estudo de Caso 2: Bike Anjo – Brasil

Bike Anjo é uma rede de ciclistas que promove, mobiliza e ajuda pessoas a começarem a utilizar a bicicleta nas cidades. Foi criada na cidade de São Paulo e disseminada para várias cidades no Brasil e no mundo (como o programa “Bike Buddy” da Mubi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, em Portugal). A rede funciona de forma colaborativa através de uma plataforma online onde os interessados encontram ajuda de voluntários para aprender a andar de bicicleta, acompanhamento no trânsito, recomendações de rotas, dicas de segurança, etc. Promove ainda vários eventos e campanhas. É financiado por via de campanhas de financiamento colaborativo e por patrocinadores públicos ou privados.

Saber mais: bikeanjo.org; bikebuddy.mubi.pt

Impacto:

	Eficiência do sistema de mobilidade O número crescente de pessoas registadas na plataforma (que, em 2019, cobria 708 cidades e 34 países) indica um possível aumento na repartição modal da bicicleta e no número de ciclistas sensibilizados para a segurança no trânsito, o que poderá ter impacto quer na redução do número de automóveis quer na redução do número de acidentes no trânsito.
	Ruas com vida O programa Bike Anjo promove várias iniciativas de ocupação das ruas e praças das cidades e nesse sentido contribui para ruas mais amigáveis e com mais vida.
	Proteção ambiental Não há informação detalhada a respeito da alteração modal alcançada pelo projeto, nem dos efeitos mitigadores com relação ao CO2 e outros poluentes; contudo, ao contribuir para aumentar os níveis de ciclismo como modo de transporte, o ambiente local será necessariamente beneficiado.
	Inclusão, equidade e acessibilidade O programa funciona de forma voluntária e gratuita e procura atender as necessidades de diferentes grupos, incluindo ações nas periferias, e nesse sentido contribui para uma maior equidade social.
	Segurança e conforto Ao promover ações de aprendizagem de bicicleta e de orientação no trânsito o programa contribui diretamente para mais segurança e conforto no trânsito.
	Valor económico Sem dados específicos sobre este tópico, mas é previsível que o programa fomente novas iniciativas económicas em torno da bicicleta.
	Consciencialização e aceitação O programa junta os membros da comunidade para de forma voluntária e colaborativa trabalharem na melhoria da segurança de todos, contribuindo para uma maior sensibilização de todos e para quebrar a resistência à bicicleta.

Legenda:

Muito Positivo

Positivo

Neutro

Negativo

Muito Negativo

ANSR – Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (2014). Guia do Condutor de Velocípede. Consultado em 13 Janeiro 2019. Disponível em: http://www.ansr.pt/SegurancaRodoviaria/Publicacoes/Documents/GUIA%20CONDUTOR%20VELOC%C3%8DPEDE.pdf

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