1. Apresentação

Esta medida caracteriza-se por reduzir a largura de toda a faixa de rodagem, resultando na redução da velocidade e volume de veículos motorizados e no aumento de segurança dos restantes modos de transporte.

 

2. Objetivos

  • Reduzir a velocidade dos veículos motorizados de modo a permitir o uso partilhado da via por diferentes modos de transporte.
  • Aumentar a segurança para os ciclistas.

 

3. Importância da Medida

Vários estudos mostram que o trânsito de veículos motorizados constitui a maior barreira para a mobilidade em bicicleta. Medidas de acalmia de trânsito e redução de velocidade são fundamentais para promover a utilização de bicicleta, já que diminuem a necessidade de segregar a bicicleta, fomentando a igualdade entre meios de transporte motorizados e não-motorizados no mesmo contexto físico.

1. Boas Práticas

– Esta medidas é indicada para ruas que ultrapassam as larguras máximas definidas pela autoridade nacional da mobilidade (IMT no caso português) para a sua hierarquia viária. Isto é particularmente importante para as vias de hierarquia viária baixa uma vez que nessas vias o perfil se devia adequar as velocidades baixas e à compatibilização com outros modos de transporte.

– Trabalhar com peritos com conhecimentos atualizados sobre as medidas e os designs em uso.

– Utilizar diferentes tipos de medidas de acalmia de trânsito e diferentes ações dentro de cada medida (Ver Deflexões horizontais e verticais na faixa de rodagem, Zonas de velocidade limitada, Restrições de conectividade automóvel).

– Projetar a intervenção tendo em conta que as ruas são utilizadas com vários propósitos, nomeadamente, viajar, passear, socializar, vender e viver, no sentido de as ruas serem os espaços de entrada para as habitações. Neste sentido, as intervenções devem ser criadas de modo a melhorar a estética e o conforto dos peõese ciclistas, em adição a reduzirem a velocidade dos veículos motorizados.

– Sinais de STOP não devem ser utilizados como meio de acalmar o trânsito.

– Novas intervenções devem receber sinalização extra para alertar as novas condições. Depois de alguns anos, os sinais extra podem ser retirados.

– Monitorizar a adaptação dos cidadãos às alterações e ir reformulando medidas de modo a responderem às necessidades dos utilizadores, sem comprometer os ideais sustentáveis (Ver Gestão, manutenção e monitorização).

– Explicitar os princípios por detrás das medidas tomadas para que fique claro a sua necessidade e funcionamento (Ver Informação).

 

2. Ações

Separador central
Redução da largura da faixa destinada à circulação de automóveis através da introdução de um separador central com espaços verdes, ciclovias, estacionamento, etc.

Vantagens:
É uma medida fundamental para promover a acalmia de tráfego e para assegurar espaço para os modos suaves.
Redução da largura da faixa de rodagem
A capacidade rodoviária para o uso de automóveis é reduzida. Nas vias intervencionadas alarga-se o passeio e/ou introduzem-se ciclovias, vias de transportes públicos, espaços verdes ou estacionamento.
Estas medidas geralmente visam não apenas reduzir o volume de tráfego de automóveis, mas também incentivar o uso do transporte público e modos suaves.
Introdução de obstáculos
Reduz-se a largura da faixa de rodagem de automóveis ao introduzir obstáculos como floreiras ou pinos.

Vantagens:
Não exige a introdução de infraestruturas complexas, reduzindo o custo de execução.

“O poder da tinta”: A cidade de Fortaleza, no Brasil, lançou um novo projeto Cidade da Gente no Dragão do Mar em Agosto de 2018. Empreiteiros da cidade e voluntários locais aplicaram cores fortes e padrões arrojados num local de 5.000 m2 durante três dias, e usaram 1.000 litros de tinta para melhorar a geometria das ruas. O novo desenho tornou as ruas mais seguras e trouxe vida e energia para o bairro.

Saber mais: https://globaldesigningcities.org/2018/09/20/the-power-of-paint-bringing-life-to-the-streets-of-dragao-do-mar/?fbclid=IwAR2wm63fQ_tVzRXsxFrSXq7YdP3epa2I59noLOYP6aE1e8-F18Gr9JVcFWo

1. Impactos

Eficiência do sistema de mobilidade
A medida é prejudicial ao automóvel, desencorajando o seu uso e promovendo modos alternativos de transporte, o que tende a melhorar a eficiência no sistema de transporte. Contudo, por reduzir a velocidade e volume do trânsito, pode gerar alguns pontos de congestionamento.
Ruas com vida
As intervenções exigem o redesenho do espaço público de modo reduzir conflitos entre veículos, peões e ciclistas. Ao facilitar a deslocação de modos ativos e a partilha de espaço entre diferentes utilizadores promove-se a humanização da cidade.
Proteção ambiental
Estudos indicam que medidas de acalmia de tráfego favorecem a alteração modal do carro para a bicicleta, o que reduz os níveis de poluição atmosférica e sonora.
Inclusão, equidade e acessibilidade
Medidas de acalmia de tráfego garantem melhorias na acessibilidade e opções de viagens para os utilizadores de modos alternativos de transporte.
Segurança e conforto
Ao reduzir a velocidade dos automóveis e aumentar a visibilidade dos peões e ciclistas, as ruas tornam-se mais seguras e confortáveis.
Valor económico
A medida torna o acesso ao comércio e serviços locais mais atrativo devido à melhoria de segurança e qualidade ambiental. No entanto, as áreas de tráfego acalmado também podem ser menos atraentes para o público utilizador de veículos motorizados, reduzindo a acessibilidade ao tráfego de visitantes.
Consciencialização e aceitação
A provisão de medidas de acalmia de tráfego promove uma maior utilização da bicicleta, o que pode influenciar grupos mais céticos a utilizarem a bicicleta com mais frequência.

Legenda:

Muito PositivoPositivoNeutroNegativoMuito Negativo

 

2. Barreiras

Legal
Países onde não existe enquadramento legal e orientações sobre acalmia de tráfego podem encontrar barreiras legais.
Financeira
Os custos alteram consoante o grau de intervenção. Quanto mais complexos forem os materiais utilizados e o redesenho do espaço urbano, mais alto será o custo.
Governação
As medidas de acalmia do tráfego podem geralmente ser implementadas por um único departamento público.
Aceitação política
Medidas focadas em reduzir a competitividade do automóvel frequentemente têm reduzida prioridade política.
Aceitação pública
Os cidadãos que residem ou utilizam frequentemente os espaços intervencionados podem levantar alguma oposição A estética e a localização precisa das medidas são frequentemente influências importantes para a sua aceitação. Alguns estudos demostram que a maioria das pessoas que vive em áreas de acalmia de tráfego estão satisfeitas com a medida.
Viabilidade técnica
Várias medidas de acalmia de tráfego exigem conhecimentos técnicos específicos.

Legenda:

Sem barreirasBarreira mínimaBarreira moderadaBarreira significativa

 

3. Custos

Os custos variam consoante as ações implementadas. A redução da faixa de rodagem através da introdução de passeios e/ou pistas cicláveis exige mais materiais e conhecimento técnico especializado, tanto sobre o conforto das novas vias, como sobre a aplicação dos materiais.

A introdução de faixas cicláveis é menos dispendiosa a nível de materiais, mas necessita da mesma atenção ao conforto e segurança que as pistas cicláveis.

A colocação de obstáculos varia em custo consoante os materiais utilizados. Aqui, é preciso ter em conta que materiais mais resistentes irão exigir menos manutenção no futuro. Também conferem mais segurança quando são utilizados como barreira para separar ciclistas e/ou peões.

(Ver Rede ciclável)

 

Estudo de Caso 1: Melhorias nas ruas Allen e Pike, New York, New York (E.U.A.)

Nas ruas Allen e Pike, alargou-se o separador que dividia 6 faixas de rodagem, de modo a criar espaço público de qualidade e fornecer uma ciclovia localizada adequadamente. Além da redução de 6 faixas para 4, reduziu-se a conetividade de automóveis privados sem comprometer os transportes públicos e melhoraram-se as condições em cruzamentos de modo a acomodar ciclistas e peões. O projeto resultou em menos acidentes, levando ao planeamento de melhorias, incluindo mais uma ciclovia no sentido oposto e a introdução de canteiros para as proteger.

Impacto:

Eficiência do sistema de mobilidade
Ao reduzir o volume de automóveis privados sem comprometer os transportes públicos e beneficiando o modo ciclável, o projeto melhorou a eficiência do sistema de mobilidade em geral.
Ruas com vida
O espaço do separador foi aproveitado ao máximo, não só para estreitar a via, mas também para criar um espaço comunitário de qualidade. Introduziu-se vegetação, mobiliário urbano, iluminação de peões e pavimento confortável de modo a criar uma área agradável e com vida.
Proteção ambiental
Ao reduzir o volume de tráfego e acrescentar árvores ao longo do eixo, reduziram-se as emissões de gases poluentes.
Inclusão, equidade e acessibilidade
O desenho da intervenção proporcionou igualdade de espaço para os diversos utilizadores e meios de transporte.
Segurança e conforto
As alterações criaram espaços mais confortáveis e seguros para os peões e ciclistas, levando a uma redução de 12% no número de lesões.
Valor económico
Sem dados.
Consciencialização e aceitação
Uma vez que a medida incluiu a criação de uma ciclovia neste eixo, com condições adequadas de segurança, ela contribui para a disseminação do uso da bicicleta e para uma maior consciencialização em relação aos seus benefícios.

Legenda:

Muito PositivoPositivoNeutroNegativoMuito Negativo

Daily Mail (2010). Stop speeding… the DIY way: Plant pots, welcome mats and drawings slow cars. Consultado em 9 Julho 2019. Disponível em: https://www.dailymail.co.uk/news/article-1326361/Stop-cars-speeding-DIY-way-using-plant-pots-drawings-road.html

IMTT (2011). Princípios de Planeamento e Desenho. Colecção de Brochuras Técnicas / Temáticas Rede Ciclável . Consultado em 2 Julho 2019. Disponível em: http://www.imt-ip.pt/sites/IMTT/Portugues/Planeamento/DocumentosdeReferencia/PacotedaMobilidade/Documents/Pacote%20da%20Mobilidade/Rede%20Cicl%C3%A1vel_Princ%C3%ADpios%20de%20Planeamento%20e%20Desenho_Mar%C3%A7o%202011.pdf

InIR. Instituto de Infraestruturas Rodoviárias. (2011). Medidas de Acalmia de Tráfego (Vol.1) – Medidas Individuais Aplicadas em Atravessamentos de Localidades, Disposições Normativas. Consultado em 3 Julho 2019. Disponível em: http://www.imt-ip.pt/sites/IMTT/Portugues/InfraestruturasRodoviarias/InovacaoNormalizacao/Divulgao%20Tcnica/MedidasAcalmiaTrafegoVol1.pdf

ITE/FHWA. (1999). Traffic Calming: State of the Practice. Consultado em 3 Julho 2019. Disponível em: http://www.industrializedcyclist.com/trafficcalming.pdf

Juhász, M., & Koren, C. (2016). Getting an insight into the effects of traffic calming measures on road safety. Transportation Research Procedia, 14, 3811–3820. Consultado em 6 Fevereiro 2019. Disponível em https://doi.org/10.1016/j.trpro.2016.05.466

KonSULT. Knowledgebase on Sustainable Urban Land use and Transport. (2014). Traffic Calming Measures. Consultado em 6 Fevereiro 2019. Disponível em http://www.konsult.leeds.ac.uk/pg/13/

Mertens, L. et al., 2017. Built environmental correlates of cycling for transport across Europe. Health & Place, pp. 35-42.

McGrane, A. (2013) Allen and Pike Streets Corridor Improvements. PEDSAFE 2013 – Pedestrian Safety Guide and Countermeasure Selection System. Consultado em 18 Junho 2019. Disponível em: http://pedbikesafe.org/PEDSAFE/casestudies_detail.cfm?CM_NUM=19&CS_NUM=72

NACTO. National Association of City Transportation Officials. (2013). Urban Street Design Guide. Consultado em 6 Fevereiro 2019. Disponível em https://nacto.org/publication/urban-street-design-guide/

NEITE. New England Institute of Transportation Engineers. (2016). Traffic Calming. Consultado em 6 Fevereiro 2019. Disponível em: http://neite.org/wp-content/uploads/2016/10/NEITE-Final-Traffic-Calming-Guidelines-6-30-2016.pdf

Global Road Safety Partnership. (2008). Speed management: a road safety manual for decision-makers and practitioners. Consultado em 3 Julho 2019. Disponível em: https://www.who.int/roadsafety/projects/manuals/speed_manual/en/

Pedestrian Liberation (2012). DIY traffic calming in Beech Croft Road, Oxford. Consultado em 9 Julho 2019. Disponível em: https://pedestrianliberation.org/2012/07/09/diy-traffic-calming-in-beech-croft-road-oxford/

Pereira, P. C. (2014). Devolver as Cidades às Pessoas. Consultado em 6 Fevereiro 2019. Disponível em http://transportesemrevista.com/Default.aspx?tabid=210&language=pt-PT&id=40088

Pereira, J. (2013). Medidas de acalmia de tráfego em áreas urbanas consolidadas: Um caso no concelho do Seixal. (Tese de Mestrado) Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Universidade Atlântica, Lisboa. Consultado em 6 Julho 2019. Disponível em: https://run.unl.pt/bitstream/10362/12093/1/Medidas%20de%20acalmia%20de%20tr%C3%A0fego%20em%20%C3%A1reas%20urbanas%20consolidadas_.pdf

PPS. Project for Public Spaces. (2008). Traffic calming 101. Consultado em 6 Fevereiro 2019. Disponível em www.pps.org/article/livememtraffic.

Seco, Á., Ribeiro, A., Macedo, J., & Silva, A. B. (2008). Acalmia de tráfego – Manual do Planeamento de Acessibilidades e Transportes.

Victoria Transport Policy Institute (2018). Traffic Calming. Online Transportation Demand Management (TDM) Encyclopedia. Consultado em 18 Junho 2019. Disponível em: https://www.vtpi.org/tdm/tdm4.htm

Vieira, D. (2008). Medidas de Acalmia de Tráfego em Zonas Residenciais. (Tese de Mestrado Integrado). Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto.