1. Apresentação

Encerramento temporário de ruas ou vias ao tráfego motorizado proporcionando uma oportunidade de experimentar modos suaves.

 

2. Objetivos

  • Proporcionar uma vivência da via pública sem veículos motorizados e a oportunidade de experimentar a mobilidade ativa, em condições de conforto e segurança.

 

3. Importância da Medida

As ruas cicláveis temporárias funcionam como uma ferramenta de marketing de massa. Ao fechar as ruas para o tráfego de veículos motorizados, as pessoas ganham uma nova perspetiva sobre a sua cidade, vendo como as ruas podem ser usadas se não estiverem cheias de carros. A medida funciona também como um alerta público regular para a bicicleta e o transporte ativo, reforçando as normas sociais em transição.

1. Boas Práticas

– É essencial garantir todas as condições de segurança necessárias, em particular a eliminação do perigo rodoviário causado pelo tráfego motorizado.

– É importante promover uma boa experiência para todos, nomeadamente através de iniciativas complementares, como atrações culturais, passeios de bicicleta em grupo ou outros.

– Devem ser implementadas rotas alternativas para veículos motorizados.

– Monitorizar a adaptação dos cidadãos às alterações e ir reformulando medidas de modo a responderem às necessidades dos utilizadores, sem comprometer os ideais sustentáveis (Ver Gestão, manutenção e monitorização).

– Explicitar os princípios por detrás das medidas tomadas para que fique claro a sua necessidade e funcionamento (Ver Informação).

 

2. Ações

Ruas abertas
Os programas de “Ruas Abertas” referem-se ao fechamento temporário de ruas da cidade ao tráfego motorizado, geralmente aos domingos, estimulando os cidadãos a andar de bicicleta, caminhar, correr, andar de patins, andar de skate, etc. Ao fechar as ruas para o tráfego de veículos motorizados, as pessoas ganham uma nova perspetiva sobre a sua cidade, vendo como as ruas podem ser usadas se não estiverem cheias de carros e permitindo que elas a experimentem a partir do meio da rua, sem o ruído e o perigo dos carros.

Saber mais: Open Streets Project (EUA).
Ciclovias temporárias
À semelhança das “Ruas Abertas”, as ciclovias temporárias referem-se à criação temporária de ciclovias numa via geralmente usada pelos veículos motorizados, de forma regular (geralmente aos domingos e feriados) ou pontual (como no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade). Trata-se de uma ação de urbanismo tático que permite experimentar a solução antes de implementá-la de forma permanente. Devem ser garantidas todas as condições de segurança, em particular a eliminação do perigo rodoviário causado pelo tráfego motorizado. Podem incluir adicionalmente a disponibilização de bicicletas para empréstimo, bem como pontos de apoio e reparação.

Saber mais: Ciclofaixa (São Paulo).

Em Niterói (Brasil), para comemorar a semana da mobilidade (21 a 28 de Setembro de 2013), o futuro circuito universitário de ciclovias foi demarcado com cones de trânsito. A cidade aplicou esta iniciativa de modo a inspirar confiança no conceito do uso da bicicleta. Ao mesmo tempo, pretendeu-se possibilitar a adaptação dos restantes utilizadores da rua às novas condições de trânsito.

1. Impactos

Eficiência do sistema de mobilidade
O impacto sobre sistema de mobilidade é limitado ao período de vigência da ação, mas espera-se que produza efeitos de contágio para além desse período e de forma duradoura.
Ruas com vida
As ações têm um impacto significativo sobre a vivência da rua e da cidade, disseminando uma nova perspetiva sobre a cidade.
Proteção ambiental
As ações promovem a sensibilização para a proteção ambiental.
Inclusão, equidade e acessibilidade
As ruas cicláveis temporárias dão oportunidades de todos usufruírem do espaço público, democratizando o acesso ao mesmo.
Segurança e conforto
As ruas cicláveis temporárias permitem a utilização da bicicleta em condições de segurança e conforto.
Valor económico
O comércio local tende a ser estimulado pela iniciativa.
Consciencialização e aceitação
A experiência positiva decorrente da iniciativa tem impactos significativos ao nível da sensibilização e redução de resistências à bicicleta.

Legenda:

Muito PositivoPositivoNeutroNegativoMuito Negativo

 

2. Barreiras

Legal
O enquadramento legal deve ser levado em conta ao desenvolver iniciativas de ruas sem carros temporárias.
Financeira
A ação pode ser exigente em termos de recursos materiais e humanos.
Governação
Pode ser muito trabalhoso organizar e exige bastante mão-de-obra. A responsabilidade geralmente reside numa autoridade local (município), mas pode envolver uma vasta gama de parceiros.
Aceitação política
Nas cidades principiantes, onde a bicicleta não é muito valorizada, pode ser difícil convencer os decisores políticos a tirar o espaço dos carros.
Aceitação pública
É expectável enfrentar oposição por parte de grupos de condutores.
Viabilidade técnica
Necessidade de conhecimentos para a reorganização temporária da engenharia de tráfico da cidade. Em princípio, as autoridades locais têm equipas com estes conhecimentos ou os meios para entrar em contacto com elas.

Legenda:

Sem barreirasBarreira mínimaBarreira moderadaBarreira significativa

 

3. Custos

Zona Medida Unidade Custo Ano de implementação
Lisboa, Área Metropolitana de Lisboa (Portugal) Evento de promoção da reabilitação de rua Anúncio de jornal (DESTAK) 9 000,00€ 2017
Contratação de artista (Raquel Tavares) 7 000,00€
Contratação de serviços de animação (Chapitô) 10 000,00€

Estudo de Caso 1: La Ciclovia (Bogotá)

A “Ciclovia Bogotana” foi criada em 1974 e em 1995 a sua gestão foi assumida pelas autoridades municipais de Bogotá (IDRD – Instituto Distrital de Recreación y Deporte), tornando-se a mais famosa ciclovia do mundo e um exemplo replicado por muitos municípios em todo o mundo (como São Paulo, Nova York, Melbourne, Cidade do México, Quito). É um evento que se realiza todos os domingos e feriados nos quais as principais vias da cidade são fechadas ao trânsito motorizado e tornam-se temporariamente em ciclovias, totalizando um circuito de 120 km que cobre todos os setores da cidade e é utilizada por em torno de 2 milhões de pessoas (30% da população). Além das bicicletas, as ruas são ocupadas por corredores, skates, patins, e são montados palcos em vários parques da cidade onde instrutores de ginástica, yoga e músicos conduzem as pessoas através de várias atividades.

Saber mais: www.idrd.gov.co/ciclovia-bogotana.

Impacto:

Eficiência do sistema de mobilidade
Bogotá está na transição de uma cidade principiante para uma cidade “em ascensão” (climber), já que a repartição modal da bicicleta aumentou de 0.58% em 1996 para 9.10% em 2017, para o que a criação da Ciclovia é considerada um marco primordial (Rosas-Satizábal & Rodriguez-Valencia, 2018), tendo servido de período de maturação para desencadear um conjunto de outras medidas de gestão de mobilidade (incluindo uma extensa infraestrutura ciclável). Políticas para a bicicleta são agora incluídas no planeamento da cidade.
Ruas com vida
A Ciclovia trouxe pessoas para as ruas de Bogotá, numa cidade que costumava ser totalmente centrada no carro, mostrando que as ruas podem ser usadas para outras atividades, como andar com crianças, correr, andar de bicicleta, promovendo assim ruas com mais vida.
Proteção ambiental
Numa cidade frequentemente sufocada pela poluição, a ciclovia melhorou significativamente o ambiente local (embora não haja dados específicos disponíveis).
Inclusão, equidade e acessibilidade
Um estudo transversal mostrou que o programa Ciclovía se correlaciona positivamente com a utilização de bicicleta como meio de transporte, sobretudo em classes sociais mais baixas que não têm outros meios de transporte disponíveis (Gómez et al., 2005).
Segurança e conforto
Durante o evento semanal, uma infraestrutura de segurança é colocada em funcionamento. Além disso, ao reduzir as vias utilizadas pelo tráfego motorizado, o evento reduz o perigo rodoviário na cidade, elimina este perigo das vias onde é implementado e permite que os motoristas se coloquem temporariamente no lugar dos ciclistas, despertando uma certa consciência para as suas necessidades de segurança e conforto.
Valor económico
A Ciclovía aumentou as taxas de posse de bicicletas em Bogotá, o que representa um valor económico acrescentado.
Consciencialização e aceitação
Ao tirar espaço nas ruas que geralmente estaria reservado para os carros e abrindo-o para a bicicletas e outros modos não motorizados, as ciclovias funcionam como um compromisso visível para aumentar a utilização de bicicleta numa cidade.
O programa Ciclovia contribuiu fortemente para o robustecimento de uma cultura de bicicleta generalizada, aumentando a paixão pelo ciclismo e reduzindo o estigma associado a ele no que costumava ser uma sociedade com “orgulho de carro e vergonha da bicicleta”.

Legenda:

Very positivePositiveNeutralNegativeVery negative

Gómez, L.F., Sarmiento, O.L., Lucumí, D.I., Espinosa, G., Forero, R., Bauman, A. (2005). Prevalence and Factors Associated with Walking and Bicycling for Transport Among Young Adults in Two Low-Income Localities of Bogotá, Colombia. Journal of Physical Activity and Health. 2(4): 445–459. Consultado em 3 Julho 2019 Disponível em: https://doi.org/10.1123/jpah.2.4.445

Rosas-Satizábal, D. & Rodriguez-Valencia, A. (2018). Factors and policies explaining the emergence of the bicycle commuter in Bogotá. Case Studies on Transport Policy. Consultado em 2 Julho 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.cstp.2018.12.007